Ela acordou com um vazio no peito. Não era fome, nem sede, nem dor. Era uma sensação de que algo estava faltando, de que algo estava errado. Ela olhou para o lado e viu o seu marido dormindo tranquilamente. Ele não parecia sentir o mesmo vazio que ela. Ele parecia feliz, satisfeito, completo.
Ela se levantou e foi para o banheiro. Se olhou no espelho e não gostou do que viu. Seu rosto estava pálido, seus olhos estavam sem brilho, seus cabelos estavam desgrenhados. Ela se sentia velha, cansada, sem graça. Ela se perguntou se o seu marido ainda a amava, se ele ainda a achava bonita, se ele ainda a desejava.
Ela tomou um banho e se vestiu. Foi para a cozinha e preparou o café da manhã. Colocou a mesa e chamou o seu marido. Ele acordou com um sorriso e a beijou na bochecha. Ele elogiou o seu café e a sua comida. Ele disse que ela era a melhor esposa do mundo. Ele disse que a amava.
Ela sorriu e fingiu que estava tudo bem. Mas ela não sentiu nada. Nenhuma emoção, nenhuma paixão, nenhuma alegria. Ela sentiu apenas o vazio.
Ela passou o dia fazendo as tarefas de casa. Lavou a louça, limpou o chão, passou a roupa. Ela não tinha nada para fazer além disso. Ela não tinha um trabalho, nem um hobby, nem um sonho. Ela não tinha amigos, nem família, nem planos. Ela só tinha o seu marido.
Ela esperou ele voltar do trabalho. Ele chegou com um buquê de flores e um presente. Ele disse que era o aniversário de casamento deles. Ele disse que tinha reservado uma mesa em um restaurante chique. Ele disse que queria comemorar com ela.
Ela se surpreendeu e se emocionou. Ela pensou que ele tinha se lembrado, que ele tinha se importado, que ele tinha feito algo especial para ela. Ela pensou que talvez ele pudesse preencher o seu vazio.
Ela se arrumou e foi com ele para o restaurante. Eles comeram uma comida deliciosa e beberam um vinho caro. Eles conversaram sobre coisas triviais e riram de piadas bobas. Eles pareciam um casal feliz, apaixonado, perfeito.
Ela olhou para ele e sentiu algo diferente. Não era amor, nem gratidão, nem admiração. Era uma sensação de que algo estava sobrando, de que algo estava errado. Ela percebeu que ele não era o seu marido.
Ele era um estranho.
Ele era um impostor.
Ele era um robô.
Ele era uma ilusão.
Ele era o vazio.
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